Cinema

Os escândalos e mistérios de Alla Nazimova

quarta-feira, setembro 02, 2015

Por Rafaella Britto

Alla Nazimova em "Salomé", de Charles Bryant (1923)
(Foto: Reprodução)

Considerada uma das maiores estrelas do palco e do cinema da década de 1920, a atriz Alla Nazimova brilhou na Broadway, e escandalizou Hollywood por seu estilo de vida envolto em ousadias e mistérios. 
Nascida Mariam Edez Adelaida Leventon, em Yalta, Criméia, em 22 de maio de 1879, era a terceira filha de uma família de origem judaica. Ao longo da infância, viveu em casas de adoção e, ainda cedo, demonstrava personalidade irreverente e incrível aptidão para a arte. Aos sete anos, aprendeu violino. Após suas primeiras aparições no teatro, mudou seu nome para Alla Nazimova, sob insistência do pai em proteger o nome da família.

(Foto: Edward Steichen - 1931)

Aos 17 anos, entrou para a companhia de atores de Konstantin Stanislavsky, como aluna de seu “método de atuação” no Moscow Art Theatre. Nesta época, vivia sob a custódia de homens ricos, e apaixonou-se por aquele que viria a ser o seu único marido, o ator e estudante Sergei Golovin. O romance, porém, durou pouco, e eles jamais foram legalmente casados.
Descontente na companhia Stanislavsky, passou a atuar no teatro de repertório. Neste período, conheceu Pavel Orlenev, famoso ator e diretor de cinema, amigo próximo de personalidades como Anton Tchekhov e Maxim Gorky, e iniciaram um relacionamento profissional e afetivo. Juntos, emplacaram sucessos por toda a Europa e, em 1905, foram para Nova York, onde Nazimova estabeleceu-se como renomada atriz da Broadway por suas interpretações nas peças “Hedda Gabler” e “A Doll’s House”.

Alla Nazimova na produção da Broadway "A Doll's House"
(Foto: Reprodução)

Nazimova recusou-se a deixar Nova York, como era da vontade do companheiro. Orlenev retornou a Rússia e o relacionamento chegou ao fim. O talento singular da jovem atriz interessou Hollywood e, em 1916, estrelou seu primeiro filme, “War Brides”. Nos anos seguintes, interpretou uma suicida em “Toys of Fate” (1918), uma prostituta em “Revelation” (1918) e papéis duplos de meias irmãs durante o Levante dos Boxers em “The Red Lantern” (1919).

Alla Nazimova em "Camille" (1921), com figurino de Natacha Rambova
(Foto: Reprodução)

Sua carreira floresceu a partir da fundação de sua própria produtora cinematográfica, reunindo uma importante nata artística, que incluía os então marido e mulher Rodolfo Valentino e a estilista Natacha Rambova. Alla Nazimova tornou-se a atriz mais bem paga de Hollywood. Em 1921, contracenou com Valentino no papel-título de “Camille”, uma das adaptações da obra de Alexandre Dumas Filho, "A Dama das Camélias”, para o cinema.

Alla Nazimova e Rodolfo Valentino em "A Dama das Camélias" (1921)
(Foto: Reprodução)

Em 1923, protagonizou “Salomé”, um exótico filme baseado na polêmica tragédia teatral em um ato, de autoria de Oscar Wilde. “Salomé” é considerado um dos primeiros filmes-arte da história do cinema. Ambos filmes independentes, “A Dama das Camélias” e “Salomé” foram fracassos de público. 


Atriz performática, suas excentricidades dentro e fora do palco aterrorizavam a América puritana: bissexual, teve como amantes o escritor Anton Tchekov, a atriz Tallulah Bankhead e a poetisa Mercedes de Acosta; por mais de dez anos, viveu um conturbado relacionamento com o ator e diretor Charles Bryant; em sua mansão, denominada O Jardim de Alá, promovia festas particulares regadas a orgias e suntuosidades. De seu aclamado círculo de lésbicas, faziam parte atrizes como Jean Acker, a primeira esposa de Rodolfo Valentino. Personalidades como Ginger Rogers, Frank Sinatra, Humphrey Bogart, F. Scott Fitzgerald, e mesmo o presidente norte-americano Ronald Reagan, eram frequentadores do Jardim de Alá, na Sunset Boulevard, em Hollywood.


(Foto: Reprodução)

O seu estilo de vida era alvo da indústria de fofocas e, devido à imagem escandalizada, foi rejeitada para filmes, tornando-se uma estrela em decadência. Arruinada, vendeu sua mansão e tentou o suicídio. Publicou sua autobiografia, e permaneceu no anonimato, estrelando curtos papéis no cinema.


Foto: Reprodução

Em 1938, Nazimova retornou a Hollywood, acompanhada de sua parceira, a atriz Glesca Marshall, com quem permaneceu em união estável. Nazimova faleceu aos 66 anos de idade, vítima de trombose, em 13 de julho de 1945. Glesca Marshall, única herdeira de Nazimova, mudou-se mais tarde para a Geórgia com sua nova parceira, Emily Woodruff, levando consigo um baú, com itens pertencentes à antiga companheira. Glesca Marshall faleceu em 1987, e, sete anos mais tarde, faleceu Emily Woodruff. O baú permaneceu na propriedade, até que esta fosse adquirida pela avó do estudante Jack Raine.
No início de 2015, Jack Raine descobriu na propriedade o antigo baú. Dentre os pertences de Nazimova, foi encontrada a peruca de pérolas idealizada pela figurinista Natacha Rambova para o filme “Salomé”. Outros itens são trajes de produções da Broadway, e peças das grifes Stephane e Brommer New York, com as quais a atriz posou para fotografias em seus anos de estrelato. 


Cena do filme "Salomé" (1923); à direita, a peruca de pérolas original, criação da estilista Natacha Rambova
(Foto: Alla Nazimova Society)

O baú de Alla Nazimova, redescoberto em 2015, na Geórgia
(Foto: Martin Turnbull)

A descoberta foi entregue aos membros da Alla Nazimova Society, sociedade fundada em 2013, dedicada à difusão da memória de Alla Nazimova.

Fontes:

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