Moda

Estilo: o romantismo punk de Patti Smith

domingo, maio 07, 2017


Por Rafaella Britto –


Patti Smith é uma das mais influentes figuras femininas do rock ‘n’ roll: já na década de 1970, a poetisa do punk quebrou barreiras de gênero, consagrando-se pelo charme andrógino e atitude inconscientemente afrontosa para com as normas sociais.


(Foto: Reprodução)

Aos 20 anos, Patricia Lee Smith deixou a família, o emprego de operária e o filho recém-nascido em Nova Jersey e partiu para Nova York sem dinheiro, trazendo na bagagem somente uma muda de roupas, um livro de Rimbaud e o sonho de ser artista. Sem ter onde dormir ou o que comer, foi amparada pelo então aspirante a artista plástico Robert Mapplethorpe – posteriormente, um dos mais celebrados fotógrafos de sua geração.
Vivendo como amantes errantes no famoso Hotel Chelsea, reduto da contracultura, Smith e Mapplethorpe aproximaram-se de artistas da vanguarda norte-americana, como o pintor pop Andy Warhol, os poetas beatniks Allen Ginsberg e William S. Burroughs, o estilista Bruce Rudow, e os músicos Jimi Hendrix, Janis Joplin e Johnny Winter.

Patti Smith e Robert Mapplethorpe (Foto: Reprodução)

Patti Smith ascendeu ao estrelato em 1975, com o lançamento de seu disco de estreia, Horses. O álbum tornou-se célebre por incorporar lirismo e poesia ao punk rock. A imagem que ilustra a capa – de autoria de Robert Mapplethorpe – traz Smith em toda sua atitude: de traços alongados, conservando uma leve penugem sobre os lábios, vestindo uma camisa branca de punhos cortados adquirida em uma loja do Exército da Salvação, gravata, cabelos desfiados à la Keith Richards e paletó sobre os ombros imitando Frank Sinatra, Patti retoma suas influências estéticas dos poetas malditos Rimbaud, Genet e Baudelaire. De maneira descompromissada e, ao mesmo tempo, agressiva, impõe sua imagem dominadora, transcendendo as fronteiras entre masculino/feminino.

“Tirada em alto contraste contra uma parede branca, [a foto] une a austeridade dos filmes de arte europeus com a alta-moda glamorosa das revistas”, escreve Camille Paglia em seu livro Free Women, Free Men. “Amarrotada, esfarrapada, despenteada, hirsuta, Smith desafia as regras de feminilidade. Atordoada, abatida e emaciada, arrogante e sedutora, ela é santo louco, dândi e trovador [...]”.

Patti Smith na capa de seu disco de estreia Horses (1975) (Foto: Robert Mapplethorpe)

Despojada, Patti Smith construiu seu estilo visando originalidade e acessibilidade. “Eu encarava a roupa como uma figurante que se prepara para uma participação em um filme da Nouvelle Vague”, conta em seu livro de memórias Só Garotos. “Tinha poucas opções de figurino, como uma camiseta listrada de gola canoa e um cachecol vermelho, como o de Yves Montand em Salário do medo, um figurino Rive Gauche beatnik de calças verdes justas e sapatilhas de balé vermelhas, ou minha versão de Audrey Hepburn em Cinderela em Paris, com sua blusa preta comprida, calça preta, meias brancas e sapatilhas pretas. Qualquer que fosse o roteiro, eu geralmente só precisava de dez minutos para ficar pronta.”  


Com Robert Mapplethorpe (Foto: Reprodução/Bombeb Out Punk)

Aos 70 anos, Smith conserva os jeans surrados, cabelos desalinhados e peças oversized que consagraram sua imagem. “Meu estilo é 'olhe pra mim, não olhe pra mim’. É ‘eu não me importo com o que você pensa’”, diz. 

Veja Patti Smith em nossa galeria de estilo!


Patti Smith



Referência:

Patti Smith. Só Garotos. Companhia das Letras – São Paulo, 2010. Tradução de Alexandre Barbosa de Souza.

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Criado em 2010 por Rafaella Britto, o blog Império Retrô aborda a influência do passado sobre o presente, explorando os diálogos entre arte, moda e comportamento.


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